Talvez esse não seja um tema fácil de se falar. É possível que as opiniões sejam diversas, contudo, é necessário pensar a respeito deste assunto, e por isso queremos abordá-lo aqui.
Na Igreja Adventista do Sétimo Dia não são realizados batismos de crianças recém-nascidas, mas tem se tornado cada vez mais comum o costume de batizar crianças. Há alguns anos, as crianças na faixa etária de desbravadores eram batizadas, hoje, até os aventureiros têm sido batizados em nossas Igrejas. Isso, particularmente, me preocupa bastante!
As crianças ao longo de seu desenvolvimento vão adquirindo capacidades e conhecimentos que são fundamentais para a aquisição de novas capacidades e conhecimentos. Quando uma criança chega a escola, antes de aprender a fazer cálculos de equações de segundo grau ela precisa aprender a segurar o lápis, a ler e escrever, a somar números simples, só então terá capacidade de fazer algo mais complexo. Da mesma forma, é preciso atingir certo grau de maturidade para se tomar determinadas decisões, e por isso durante um bom tempo os pais tomam boa parte das decisões por seus filhos. Decidir pertencer à Igreja de Deus, e fazer um voto público de aceitação às doutrinas de Sua Igreja é algo bastante sério!! Deve ser feito com bastante entendimento e consciência! Será que as crianças tem capacidade de tomar essa decisão?
O que é preciso para batizar? Minimamente, a pessoa que decide pelo batismo deve entender o que é pecado, o que é salvação e o que é batismo. Entender é diferente de reproduzir algo que lhe foi ensinado. Quando fazemos algumas provas em nossa vida acadêmica decoramos diversas coisas, mas isso não significa que de fato entendemos. Na verdade, muitas vezes não há entendimento, mas mera reprodução de algo que foi ensinado.
Muitas crianças aprendem a dar belas explicações sobre coisas espirituais, mas não compreendem essas coisas que explicam. Com duas ou três perguntas é possível verificar que não há entendimento, ou até mesmo que não há maturidade ainda para este entendimento existir!
Às vezes, o que os pequenos querem é poder comer o pão da santa ceia, ou beber do suco de uva. Outras vezes, querem apenas passar pelas águas batismais porque veem outras crianças fazendo isso. Crianças são assim! Querem fazer o que veem os outros fazendo, e os adultos têm que estar atentos a isso. Ao convidar os homens a aceitar o batismo, Pedro disse: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados” (Atos 2:38). Uma criança que não entende de fato o que é pecado, como poderá se arrepender?
Ellen White diz que o batismo “simboliza arrependimento do pecado e começo de uma vida nova em Cristo Jesus” (Evangelismo, p. 309). Que nova vida as crianças iniciam quando saem do tanque batismal? Veja quão séria é a orientação da serva do Senhor:
“Os pais cujos filhos desejam batizar-se têm uma obra a fazer, já examinando-se a si próprios, já instruindo conscienciosamente os filhos. O batismo é um rito muito importante e sagrado, e importa compreender bem o seu sentido. Simboliza arrependimento do pecado e começo de uma vida nova em Cristo Jesus. Não deve haver nenhuma precipitação na administração desse rito. Pais e filhos devem avaliar os compromissos que por ele assumem. Consentindo no batismo dos filhos, os pais contraem em relação a eles a responsabilidade sagrada de mordomos, para guiá-los na formação do caráter. Comprometem-se a guardar com especial interesse esses cordeiros do rebanho, para que não desonrem a fé que professam.
A instrução religiosa deve ser ministrada aos filhos desde a mais tenra infância; não num espírito de condenação, mas alegre e bondoso. As mães devem vigiar constantemente, para que a tentação não sobrevenha aos filhos de modo a não ser por eles reconhecida. Os pais devem proteger os filhos por meio de instruções sábias e valiosas. Como os melhores amigos desses seres inexperientes, devem ajudá-los a vencer a tentação, porque ser vitoriosos é quase sempre a sua sincera ambição. Devem considerar que os filhinhos, que procuram proceder bem, são os membros mais novos da família do Senhor, sendo o seu dever ajudá-los com profundo interesse a dar passos firmes na vereda da obediência. Com carinhoso zelo, devem ensinar-lhes dia a dia o que significa ser filhos de Deus e induzi-los a render-se em obediência a Ele. Ensinai-lhes que obediência a Deus implica obediência aos pais. Esse deve ser o vosso empenho de cada dia e de cada hora. Pais, vigiai; vigiai e orai, e fazei dos filhos os vossos companheiros.
E quando enfim raiar a época mais feliz de sua existência, e, amando de coração a Jesus, desejarem ser batizados, procedei com reflexão. Antes de os fazer batizar, perguntai-lhes se o principal propósito de sua vida é servir a Deus. Ensinai-lhes então como devem começar; muito depende dessa primeira lição. Mostrai-lhes com simplicidade como prestar o primeiro serviço a Deus. Tornai essa lição tão compreensível quanto possível. Explicai-lhes o que significa entregar-se a si mesmos ao Senhor e, ajudados pelos conselhos dos pais, proceder como manda Sua Palavra.
Depois de terdes feito tudo quanto vos foi possível, e eles revelarem ter compreendido o que significam a conversão e o batismo, e estarem verdadeiramente convertidos, deixai que se batizem. Mas, repito, disponde-vos de antemão a agir como pastores fiéis em guiar-lhes os inexperientes pés no caminho estreito da obediência. Deus tem de operar nos pais para que possam dar aos filhos bom exemplo em relação ao amor, à cortesia, humildade cristã e inteira devoção a Cristo. Se, porém, consentirdes em que os filhos sejam batizados e depois lhes permitirdes proceder como lhes apraz, não sentindo nenhuma obrigação de guiá-los pelo caminho estreito, sereis vós mesmos responsáveis pelo fracasso de sua fé, ânimo e interesse pela verdade.” (Evangelismo, pp. 309-311)
Há uma grande responsabilidade que recai sobre os ombros dos pais desde que um filho nasce. Contudo, fazer um compromisso com Deus através do batismo é uma responsabilidade ainda maior.
Para que a criança tenha suporte no lar para a decisão que está tomando de renunciar ao pecado e viver unicamente para Cristo, é preciso que seus pais vivam essa realidade de renuncia ao eu e ao pecado. Infelizmente, poucos adultos têm feito essa renúncia. Como seus filhos podem tomar decisões conscientes ao lado de Cristo?
Por duas vezes já vi crianças tomarem a decisão de adotar o regime vegetariano e não seguir adiante por falta de apoio dos pais (que eram líderes da Igreja). Sob a desculpa dos pais de que “eu não consigo parar de comer carne” uma decisão importante tomada por estas crianças foi afetada e estas crianças aprenderam que é difícil aderir ao regime que Deus nos orienta a seguir. Este é apenas um exemplo. Há muitas outras lutas da vida espiritual que os adultos ensinam às crianças que são difíceis, quando deveriam ensinar que Cristo nos dá poder para vencer.
Pais que se recusam a abrir mão do eu e dos desejos carnais não estão aptos a se responsabilizarem por crianças que tomam a séria e sagrada decisão do batismo. Nas palavras de serva do Senhor: “Se, porém, consentirdes em que os filhos sejam batizados e depois lhes permitirdes proceder como lhes apraz, não sentindo nenhuma obrigação de guiá-los pelo caminho estreito, sereis vós mesmos responsáveis pelo fracasso de sua fé, ânimo e interesse pela verdade.”
Reflita sobre isso!!!
Texto de Karyne M. Lira Correia